Texto por Milene da Mata em "A terapia de Alice"

Eu sempre disse que “gostaria de ter mais tempo” sem me dar conta que este é um desejo impossível. Não importa o que aconteça comigo, ou a fase difícil que eu esteja vivendo, todos os meus dias tem sempre a mesma duração e, com exceção do último dia da minha vida, eu tenho que me conformar que assim será: 24 horas diárias, nada a menos, nada a mais.

E foi assim, quase ironicamente, que em um dia difícil e extremamente tumultuado, justo quando eu me desesperei com a “falta de tempo”, que então eu percebi: eu não preciso de mais tempo, eu preciso me dar um tempo. Rever as minhas prioridades, as minhas vontades, me colocar em primeiro lugar. Tirar algumas horas só pra mim e fazer aquilo que eu realmente quero. Não quero parecer egoísta, nem tenho a intenção de repetir um discurso clichê, mas a verdade é que ninguém viverá a minha vida no meu lugar e, por mais óbvio que isso possa parecer, eu demorei bastante tempo pra perceber.

Talvez eu tenha sido muito dura comigo até aqui. Exigi demais de mim mesma, não me permiti descansar, errar, fraquejar. Mas é inevitável, a vida te coloca em situações que fogem do seu controle o tempo todo e daí, no fim do dia, não importa o que você ganhou, mas quem está ao seu lado. Eu entendi que é bom, sim, ter a minha “independência”, mas não há nada de errado em pedir ajuda, isso não faz de mim uma pessoa fraca, pelo contrário, me torna muito mais forte.

Acho que, assim como eu, todo mundo já perdeu tempo desejando alguma coisa a mais, sendo que no fundo nós precisamos mesmo é de menos: menos orgulho, menos reclamações, menos mágoa. Menos ansiedade pensando naquilo que você pode ser, para aproveitar melhor tudo aquilo que você já é. Eu descobri que o tempo é curto sim, mas ele é suficiente se eu viver o presente e fizer aquilo que é melhor pra mim.