O baú
segunda-feira, janeiro 14, 2013Já eram três da manhã quando ela olhou no relógio.
Ainda não havia conseguido dormir.
O sono não batia na porta. E para falar a verdade,
ela não queria dormir.
Precisava desesperadamente abrir aquele baú.
Aquele, que ela guardava no sótão. Aquele, que ela raramente deixava alguém ver.
Aquele, que ela mesma pintou, que ela mesma decorou e que só ela sabia onde a chave estava.
Levantou. Na ponta dos pés, abriu a porta que levava ao sótão, subiu as escadas e pegou aquele baú.
Estava muito mais pesado desde a última vez.
Com um sopro, a poeria logo começou a dançar, deixando limpa a tampa do baú.
Ela o carregou em seus braços. Deu uma última olhada para o sótão... quantas coisas esquecidas
não estariam ali? Quantos brinquedos choravam? Quantos cadernos guardados, bonecas perdidas.
Desceu as escadas e delicadamente colocou o baú no chão da sala.
Tirou a chave do cordão que ficava em seu pescoço e parou.
Por alguns minutos encarou o baú. Ele sorria para ela.
Mas ela não tinha mais certeza se realmente queria abri-lo. Sabia o que poderia sair de lá.
Mas a curiosidade gritou em seus ouvidos: abra!
Girou a chave e abriu.
Era um baú de tesouros?
Mais ou menos.
Era seu baú de memórias.
E entre sorrisos e lágrimas ela foi tirando as memórias que estavam lá dentro. Como fotografias antigas ali guardadas. E como peças de um grande quebra cabeças, ela foi colocando essas fotografias, uma a uma no chão.
Tentava encontrar as peças que faltavam.
Apelidara carinhosamente seu baú, com o nome de Passado.
E acreditava que Passado poderia lhe trazer algumas respostas. Acreditava que ali, no meio de tantas memórias, ela poderia finalmente montar aquele grande quebra cabeça. Mas não. As peças continuavam sem se encaixar.
Com as peças novas, ela até que conseguiu encaixá-las em alguns lugares de suas antigas memórias.
Mas ela tinha que parar. Precisava fechar a tampa. A dor era grande demais para continuar montando o quebra cabeças.
Secretamente, em seu coração, ela só queria ganhar um presente... um baú novo, para chamá-lo de Presente!
2 Comentários
É verdade, muitas vezes, precisamos fechar logo essa tampa do baú de uma vez por todas!
ResponderExcluirDeus continue abençoando a sua vida Pati!
"Mas ela tinha que parar. Precisava fechar a tampa. A dor era grande demais para continuar montando o quebra cabeças."
Belo texto, parabéns!!!
ResponderExcluirtuestremeendodeus.blogspot.com.br