Tentação x Pecado (Parte 1)
domingo, fevereiro 11, 2018
Muitas pessoas confundem tentação com pecado.
O pecado não é algo instantâneo, é sempre precedido pela tentação e pelo processo de reagirmos a ela. Ou seja, ser tentado não é pecado. E toda tentação pode ser vencida, por isto, todo pecado pode ser evitado. Não podemos de maneira alguma fazer da tentação um pretexto para o pecado.
“… cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz. Então, a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte.” Tiago 1:14 e 15
A tentação não está obrigatoriamente ligada a pecaminosidade. Tanto Adão quanto Jesus não possuíam pecado e ambos foram tentados: Adão cedeu à tentação, enquanto Jesus mostrou que podemos vencê-la.
É muito importante entendermos também o que é o pecado. Acredito que estaríamos sendo muito superficiais e até mesmo injustos definindo o pecado simplesmente através de uma lista legalista de “não podes”.
Vamos, portanto, estabelecer a definição de pecado a partir do nosso relacionamento com os nossos sentimentos e desejos juntamente com o respectivo efeito colateral disto, ou seja, “quem governa quem?” Governamos nossos desejos ou nossos desejos nos governam, ou melhor, nos desgovernam?
Paulo aborda esta questão de uma maneira muito clara:
“Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convém: todas as coisas me são lícitas; mas eu não me deixarei dominar por nenhuma”. (I Co 6:12)
Portanto, pecado é o resultado de falharmos diante deste conflito: dominamos sobre nossos desejos e sentimentos ou somos dominados?
Os três desejos básicos
Existem três desejos básicos que Deus colocou no homem. “Existem três desejos básicos – nem mais, nem menos que três. Eva foi tentada nestes três desejos básicos: O desejo de ter prazer nas coisas, o desejo de obter coisas e o desejo de realizar coisas” T. A. Hegre.
“Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer (1), agradável aos olhos (2), e árvore desejável para dar entendimento (3)…” (Gn 3:6)
“Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne (1), a concupiscência dos olhos (2) e a soberba da vida (3), não é do Pai, mas do mundo”, (1 Jo 2:16)
Devemos ressaltar que a palavra “concupiscência” significa apenas um desejo forte, uma propensão ou inclinação acentuada. Poderíamos dizer que o processo da tentação se dá em quatro fases quase que simultâneas:
1. Concupiscência da carne
É expresso nas palavras: “Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer” (Gn 3:6). Diz respeito ao desejo de “Obter satisfação”. É um desejo legítimo, dado por Deus. Tem a ver com as nossas necessidades como ser humano. Ex: apetite alimentar, sono, prazer sexual, aceitação (conforto emocional), etc.
A tentação reside numa instigação feita ao homem para que ultrapasse os limites estabelecidos pela palavra de Deus. O resultado seria glutonaria, bebedice, preguiça, fornicação, lascívia, manipulação, etc. Aqui se aplica o conceito de carnalidade, que nada mais é que a idolatria do desejo de obter satisfação.
2. Concupiscência dos olhos
É apresentado nas palavras:”… agradável aos olhos…” (Gn 3:6b). Este é um outro desejo legítimo concedido por Deus, de se “adquirir coisas”, o desejo de aquisição, relacionado com necessidades exteriores ao nosso corpo, coisas que almejamos conseguir. Existe um toque muito forte de realização neste desejo. Nós podemos querer ter coisas, mas não devemos querer nada que Deus também não queira para nós. Só na vontade de Deus, vamos experimentar o que verdadeiramente é bom, perfeito e agradável (Rm 12:2). Por isto é tão cabível a admoestação de Paulo: “Pelo que não sejais insensatos, mas entendei qual seja a vontade do Senhor (Ef5:17).
Quando queremos muito, despertamos em nós uma ambição que pode ser implacável e destrutiva. E este desejo pode crescer tanto, vindo a dominar-nos através da inveja, ciúmes, roubo, homicídio, etc.
3. Soberba da vida
Expresso nas palavras seguintes: “e arvore desejável para dar entendimento’ (Gn 3:6c). Este é mais um desejo legítimo, concedido ao homem por Deus, de saber e fazer. É importante querermos realizar alguma coisa, adquirir conhecimento, ser alguém, ter criatividade. Mas, aqui também precisamos nos afinar com a palavra de Deus.
A tentação reside no fato de abandonarmos os planos de Deus e agirmos por conta própria. Alguns pecados nesta área seriam: auto-afirmação, orgulho, superioridade, inferioridade, competição, etc.
É muito comum vermos pessoas fazendo a obra de Deus sem Deus, por causa disto.
É indispensável desenvolvermos uma habilidade espiritual de resistir à tentação. Quanto mais resistimos à tentação mais imunidade adquirimos em relação àquela área. A mente é o campo de batalha, por isto precisamos bombardear os pensamentos de tentação com verdades vivas da Palavra de Deus como Jesus fez com o diabo.
Para isto acontecer na prática, é indispensável uma vida devocional diária. Um relacionamento responsável com Deus na Palavra e na oração redunda numa vida plena de discernimento espiritual e domínio próprio.
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Ainda teremos a continuação
Baseado no livro “A face oculta do amor”, do escritor Marcos de Souza Borges. Reorganizei algumas ideias e inclui outras. Achei muito legal a forma como o autor trata dessas questões e resolvi compartilhar aqui.
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