O prazer de ser brega

sexta-feira, novembro 01, 2013

Indicaram esse texto para ler e eu super me identifiquei. 

Texto por Natalia

Enquanto a multidão de pseudoestudantes caminha lentamente para a liberdade, na saída da escola, uma garota chega me olhando de cima a baixo exclamando: “brega, brega, brega”. Gente como assim? Só porque estava com uma saia de crochê azul linha princesinha brilhosa de forro preto e uma bota bege de material emborrachado? Ah, injusto né?  Havia acabado de chegar de Sampa para o Maranhão e meu cérebro ainda não entendia que algumas roupas são inapropriadas no calor. O que é? Mesmo no frio?. Mas é que hoje eu faço birra, sou sem vergonha mesmo, coloco um tênis rosa sobre uma calça azul, oi? ninguém usa? Aí que tá o legal da combinação. Eu sei que pego pesado indo assim pro meu ambiente de trabalho que pede um social. Mas para além do mundo da moda, eu quero discutir atitudes e posições.
Por que você não bebe? Só um pouquinho? Ah sente a lombra aí vai, não vicia. Ah, você precisa conhecer boate tal! E esse papo medieval de virgindade? E é tanto John no Rock que acho que só conheço o rodado do Lennon porque de qualquer forma sou desse mundo. O quê? você nunca leu nenhum dos 50 tons de alguma coisa? Por que ao invés de escrever para um blog que ninguém lê você não vai ler mais teoria? Sai de casa sem maquiagem? feminista. Lê a bíblia todo dia? jesuíta! (A propósito que prazer ouvir isso de um ateu de mentirinha). Tudo bem que comprei um óculos da TB (não sei como escreve) que é bem modinha. Mas há muitos motivos para as pessoas me julgarem brega.

Eu sei que sou exótica diante dos padrões que se estabelece. Mas afinal o que é ser brega?
Para mim é seguir a moda no vestuário, na literatura, no face, na carreira, é ser parecido com todo mundo, sempre, em tudo. É não deixar sua singularidade em você. Todos temos algo diferente, gostamos de coisas que ninguém gosta, vemos beleza onde ninguém vê. Mas acabamos por treinar nosso olhar segundo as vontades estabelecidas como norma, balizando nosso querer na vontade comum, nos olhos que nos olham.
Vou ser mais bíblica porque é isso que me convém, vou ser mais poeta porque é assim que respiro. Vou pedir suco de laranja sem-vergonhamente. Vou usar mais sandálias de couro no mesmo dia que usar aqueles óculos esquisitos da vovó, vou ler menos quando não estiver afim. Vou ouvir os ‘John’s’ quando quiser ouvir. Vou me jogar na apologética que me move para Cristo, vou conversar mais com os que menos se conversa. Vou dar um abraço na amiga e sair correndo. Vou pro culto de domingo de converse. Vou deixar a louça pro dia seguinte, ou talvez semana. Vou pensar medievalmente quando esse for o certo e conveniente. Vou caminhar e comer jujuba. Vou celebrar quem sou. Vou dar um pedala generoso no meu irmão mais novo. Vou inventar música no chuveiro. Vou lutar contra injustiça social e comprar livros caros, sim. Só esse luxo consumista, tá? Vou chegar atrasada na reunião de colegiado que começou há 20 minutos só pra publicar esse texto =) Vou aplaudir de pé gente que entendeu a vida, mas ninguém entendeu que ela entendeu.  
Vou ser brega enquanto essa for quem sou. Um beijo sociedade.



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