A dor da perda

sexta-feira, março 18, 2016

Não sei.

Não queria mais falar em morte. 
Mas, estranhamente, eu sou assim. Eu preciso escrever sobre as coisas que me deixam triste. É uma forma de cura para mim. Gosto de escrever sobre tudo, claro, mas colocar as coisas pra fora em forma de escrita é a forma como eu consigo tirar o peso do meu coração.

Bom, faz uma semana que a minha família me ligou, para falar que a minha vó faleceu. Ela morava em outra cidade, mais longe do que a cidade que meus pais moram e infelizmente, como moro sozinha em Curitiba, não consegui ir para lá. Passei horas chorando, não dormi naquela noite. Fiquei mal o final de semana inteiro. Foi muito triste receber essa notícia justamente um dia depois do meu aniversário e justamente na data que marcaria um ano da minha vida em Curitiba. Obviamente, essa data me marcou para o resto da vida. 

Essa semana fiquei lembrando de tudo o que a minha vó significava para mim. Foi ela que me ensinou a fazer chimarrão quando eu tinha 6 anos de idade. Ela me buscava no colégio uma vez por semana e quando voltávamos para a sua casa, ela preparava um picnic para minha irmã e eu. Eu passava os finais de semana na casa dela e assistia futebol com ela. Ela sabia tudo sobre o Internacional. Houve uma época em que vinha uns cartões sobre animais, no chocolate Surpresa. Tinha um cartão com a foto do animal e informações sobre ele. Ela colecionava esses cartões e sempre me fazia memorizar os nomes dos animais. Digo, os nomes científicos mesmo. Ela continua sendo a melhor pessoa do mundo para mim, a pessoa mais honesta, mais gentil, mais generosa. Chegava final do ano e ela dava dinheiro para o carteiro, lixeiro, etc. Sempre presenteava as pessoas. Aos 86 anos e uma lucidez admirável. Conversava sobre tudo, principalmente sobre futebol.

Ela me ligou no dia 10 de março, no dia do meu aniversário. Um dia antes de partir. Me desejou feliz aniversário e disse que estava bem de saúde. Ela tinha pressão alta e um problema na perna que já estava a impedindo de caminhar. Estranhamente, não foi nada disso que a levou. Uma parada respiratória ou algo assim que não souberam direito o que foi.

Apesar de toda a minha tristeza, eu agradeci a Deus pela vó maravilhosa que tive. (Minha outra vó, faleceu quando a minha mãe não era casada ainda.) Agradeci a Deus por ter podido falar com ela no dia do meu aniversário. E agradeci porque Ele não a levou no dia do meu aniversário. (Eu tenho traumas com meu aniversário e daqui a pouco vou voltar nesse assunto.) Agradeço a Deus porque eu sei que ela era cristã, que ela entregou a sua vida a Deus e eu tenho certeza de que a encontrarei no Céu.

Bom, falando sobre esse tema, é estranho pensar como a morte sempre se faz presente em nossas vidas. Se não em nossa família, em alguém próximo.

No meu caso, lembro da primeira vez que soube da morte de alguém, mesmo sem saber o que isso significava. Eu tinha uns 4 anos e era amiga da filha do pastor da igreja que a minha família frequentava. A Vanessa tinha uns 3 anos. A gente ficava brincando de pega-pega ou esconde-esconde após os cultos. Lembro do dia que meus pais me contaram que a Vanessa foi morar com Jesus, junto com o pai dela, porque eles sofreram um acidente de carro.

Aos 13 anos quando eu estava na escola, a irmã de um dos meus colegas, morreu de câncer, aos 9 anos. Essas coisas marcam a gente. Eu lembro dele chorando na sala uns dias depois.

Quando eu tinha 20 anos, uma das minhas amigas da igreja faleceu. Leucemia. E eu achei tão injusto alguém morrer aos 19 anos. Ela ia se casar. Foi a primeira morte que realmente me atingiu. A primeira vez que eu sabia o que tava acontecendo, A primeira vez que eu senti falta de alguém. Saudade da risada da Dani. 

E quando eu tinha 23 anos, a filha de 4 anos de uma amiga, morreu num acidente de carro. No dia 9 de março. Como meu aniversário é no dia 10, passei meu aniversário no velório. Eu gostava muito do meu aniversário, mas depois daquele ano, essa data passou a ter um novo significado. Essas coisas marcam muito a gente. E a partir desse ano, obviamente, vou sempre lembrar do meu aniversário como o dia anterior da morte da minha vó.

Obviamente eu não sou a única pessoa do mundo que já perdeu alguém. E meu objetivo com esse desabafo todo, não é me fazer de vítima. Coitadinha de mim. Não, eu realmente quero me falar que essas coisas que me marcaram, só me fizeram mais forte. Em todos os outros os outros anos, eu tive a minha família ao meu lado para me consolar. Eu tinha meus pais e minha irmã para me abraçar e chorar comigo. E pela primeira vez em minha vida, eu estava sozinha com Deus. Claro, vários amigos me ligaram, oraram por mim nessa última semana, me consolaram, me abraçaram. Mas tudo o que eu queria, era estar com a minha família nesse momento. E no meio dessa dor, eu vi a mão de Deus. Eu queria estar com a minha família para consolá-los, mas quem precisava ser consolada era eu. E Deus cuidou de mim de uma forma que eu nem consigo explicar aqui. 

Deus colocou uma paz em meu peito, uma tranquilidade, uma calma. A paz que excede todo entendimento. A fé e a certeza de que a minha vó está com Ele. Deus cuidou de mim e em meio à lágrimas eu quero deixar minha gratidão aqui. Por cada amigo que Deus usou para cuidar de mim, também. Obrigada.

Dizem que o tempo cura tudo. Não é verdade. Quem cura as nossas feridas é Deus. 

"Só ele cura os de coração quebrantado e cuida das suas feridas." Salmos 147:3
"E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas." Apocalipse 21:4


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